11 de set. de 2012

Os animais na tragédia do 11 de Setembro de 2001


O cão Sirius, único animal não humano listado entre as vítimas do 11/09/2001, com David Lim. Foto: Shaggydogstories.com

Os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 ao World Trade Center, nos EUA, estão completando 11 anos e, desde então, a cada dia 11 de Setembro o mundo inteiro relembra o episódio. O número de vítimas humanas foi estimado em 2.996 pessoas, incluindo os 19 sequestradores. Segundo a Wikipedia, o número de feridos foi de 6.291, e 411 pessoas morreram trabalhando no resgate, incluindo bombeiros, policiais e paramédicos.

Mas, e os animais? Quase não há notícias sobre animais envolvidos ou afetados pela tragédia. Seguem abaixo as histórias de quatro cães que ficaram conhecidos por trabalhos importantes em salvamento e resgate das vítimas dos ataques, e a história de Sirius, o único cão que teve a morte divulgada pela imprensa.

As cadelas Salty e Roselle

Salty e Roselle eram duas cachorras da raça Labrador, que trabalhavam como cães guia e estavam com seus tutores no World Trade Center durante os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Ambas guiaram os seus tutores e outras pessoas para fora das torres em chamas antes que elas desabassem. As informações são da Wikipedia.





Roselle com Michael Hingson, e Salty com Omar Rivera. Foto: Wikipedia

Salty foi treinada como cão guia para deficientes visuais em 1998 pela Guiding Eyes for the Blind, de Yorktown Heights, em Nova Iorque. Parte de seu treinamento incluía caminhar pelo metrô de Nova Iorque e andar em meio ao movimentado tráfego do Bronx. O deficiente visual Omar Rivera foi apresentado a Salty por sua instrutora, Caroline McCabe-Sandler.

Quando ocorreram os ataques de 11 de Setembro, Salty e Omar estavam no 71° andar. Omar estava trabalhando para a empresa Port Authority, na Torre 1 do World Trade Center.

Recusando-se a sair de perto do tutor, Salty o conduziu em segurança, juntamente com a supervisora de Omar, Donna Enright. Na metade do caminho, uma colega de trabalho, com a intenção de ajudar, tentou tomar a guia de Salty, mas a cachorra não permitiu. Foi leal até no momento mais crítico: não queria deixar de guiar Omar.

Salty faleceu em 28 de março de 2008.

Roselle nasceu em San Rafael, na California, em 1998, na empresa Guide Dogs for the Blind. Ela se mudou para Santa Barbara, para ser criada por Kay e Ted Stern. Após crescida, voltou para a Guide Dogs para ser treinada como cão guia. Roselle e seu tutor, Michael Hingson se encontraram em novembro de 1999, quando ela passou a ser sua guia.

Ela estava dormindo sob a mesa de Michael no 78° andar da Torre 1 no World Trade Center quando o ataque começou. Quando o avião se chocou com o prédio, quinze andares acima, Roselle acordou e, calmamente, guiou Michael pela escadaria abaixo, apesar da fumaça, da confusão e do barulho ao redor dela.

Ela levou o tutor e mais trinta pessoas por 1463 degraus abaixo, até que saíssem da Torre. Quando haviam descido metade do caminho, passaram pelo bombeiro que passou a ajudá-los, e conta-se que Roselle parou por um momento para cumprimentá-lo.

A descida levou cerca de uma hora. Após terem saído da Torre 1, a Torre 2 desabou, e detritos voaram para todos os lados. Michael disse, mais tarde: “Enquanto todos corriam em pânico, Roselle permaneceu totalmente focada em seu trabalho; pedras caíam ao nosso redor e sobre nós, mas ela ficou calma”.

Quando saíram do prédio, a cachorra guiou Michael até uma estação de metrô, onde ajudou também uma mulher que havia ficado cega devido a estilhaços decorrentes da explosão. Assim que chegaram em casa, Roselle imediatamente começou a brincar com Linnie, o cão “aposentado” que havia sido o anterior guia de Michael, como se nada de grave tivesse acontecido.

Após os ataques, Michael mudou de carreira. De gerente de vendas de uma empresa de computadores, passou a trabalhar como Diretor de Relações Públicas da Guide Dogs. Michael e Roselle apareceram em inúmeros programas de TV, e compareceram a muitos eventos.

Em 2004, Roselle foi diagnosticada com uma doença chamada “trombocitopenia”, que ficou sob controle com a ajuda de remédios. Em março de 2007, deixou de trabalhar como guia, pois os medicamentos começaram a afetar os seus rins. Ela continuou a viver com Michael, que passou a utilizar um novo cão guia. Em junho de 2011, Michael notou algo errado com Roselle e a levou ao veterinário, onde descobriram que ela estava com uma úlcera estomacal.

Ela morreu dois dias depois, em 26 de junho de 2011.

Salty e Roselle receberam a medalha Dickin Medal , da ONG People’s Dispensary for Sick Animals , no dia 05 de março de 2002.

A citação dizia: “Em homenagem pela lealdade aos seus tutores, por terem guiado-os corajosamente para um local seguro por mais de setenta andares do World Trade Center durante os ataques terroristas de 11 de Setembro”.

Além deste reconhecimento, Salty e Roselle também receberam uma congratulação da Associação Guide Dogs for the Blind, com o prêmio “Partners in Courage” (Parceiros na Coragem).

Em memória de Roselle, o tutor Michael escreveu um livro chamado “Thunder Dog: The True Story of a Blind Man, His Guide Dog, and the Triumph of Trust at Ground Zero” , e o lucro obtido nas vendas foi revertido em fundos para uma ONG que atua junto a pessoas com deficiência visual.

Neste mesmo ano, Roselle ganhou o título póstumo de Heróina Canina Americana do Ano de 2011 pela Humane Society dos Estados Unidos.

O cão Appollo

Appollo era um cão da raça Pastor Alemão, nascido em 1992, que trabalhava para o Departamento de Polícia de Nova Iorque (NYPD). Em 1994, ele terminou o treinamento em buscas e resgate. Ele trabalhava junto ao agente Peter Davis. As informações são da Wikipedia.

Peter e Appollo trabalharam nas operações de resgate de vítimas dos ataques terroristas de 11 de Setembro. Eles chegaram ao World Trade Center quinze minutos após o incidente, sendo que Appollo foi o primeiro cão de resgate a chegar ao local do colapso. Ele quase morreu nas chamas e com a queda de escombros, mas sobreviveu e resistiu bravamente.


Appollo e Peter Davis, no dia dos ataques. Foto: Wikipedia

Assim como Salty e Roselle, Appollo recebeu a medalha “Dickin Medal”. A citação dizia:

“Pela coragem incansável a serviço da humanidade durante as operações de busca e resgate em Nova Iorque e Washington, no dia 11 de Setembro de 2001, e após. Fiel a palavras de ordem e não se intimidando com a tarefa, o trabalho do cão e a devoção sem medida ao dever ficam como um testemunho de amor às vítimas e aos feridos”.

Appollo também recebeu o prêmio do American Kennel Club, em 2001. Foi homenageado também no evento Westminster Kennel Club Dog Show, em 2002, juntamente com outros cães de resgate da NYPD.

Apollo faleceu em novembro de 2006.

Sirius, o cão morto sob escombros

Na manhã de 11 de Setembro de 2001, a dupla responsável por detectar explosivos no World Trade Center – composto pelo Sargento David Lim e por Sirius, um cão Labrador – estava em sua base na Torre Sul quando o primeiro avião bateu na Torre Norte. David colocou Sirius no canil e correu para a Torre danificada para verificar o que havia acontecido, ainda sem saber exatamente qual tinha sido o problema. As informações são da Global Animal.

David afirma ter dito a Sirius, antes de sair: “Acho que estamos encrencados”, pois achava que ambos haviam falhado em detectar algum explosivo nos prédios. “Eu logo voltarei para você”, disse David.

Mas antes que David retornasse, os acontecimentos se seguiram, a Torre Sul desabou seguida da Torre Norte, e ele ficou preso no quarto andar com seis bombeiros e uma pessoa ferida. Todos foram resgatados cinco horas depois.


Pintura de Sirius por Debbie Stonebraker. Foto: Downtown Express

David “voltou” para Sirius no dia 22 de janeiro de 2002, quando os restos mortais do corpo do cão foram descobertos no canil, sob os escombros.

“De certa forma, eu tive sorte; tantas pessoas não encontraram os corpos que procuravam”, disse David, acreditando que Sirius foi tratado com alguma dignidade assim como todos as vítimas que tiveram seus corpos encontrados. “Eles o trataram como o fizeram com as pessoas – com todas as honras. Eu apreciei isto.”

No funeral de Sirius, que ocorreu em Abril de 2002 no Liberty State Park, compareceram 400 pessoas, vindas de todo o país.




Memorial em homenagem a Sirius, no Canadá. Foto: Reprodução

A lembrança de Sirius permanece. O cão ganhou um memorial no Canadá, com uma pintura feita pela artista Debbie Stonebraker, e vários sites na Internet foram criados em sua homenagem.

Sirius não era um cão detector de bombas como os outros. “Ele era carinhoso. Parecia um cão de colo, mesmo pesando quase 50 kg”, lembra David. “Ele era muito metódico…Era uma delícia vê-lo trabalhando”.

A energia de Red no Pentágono


A cachorra Red, em meio aos escombros no dia 11 de Setembro. Foto: Reuters/Molly Riley

Red foi a cachorra de raça Labrador que ficou famosa por ajudar na operação de salvamento que ocorreu no Pentágono. Logo após o avião 77 da American Airlines colidir, Red já estava a trabalho. Ela tinha 18 meses de idade e somente alguns anos depois foi certificada como cão de resgate. As informações são da Reuters e do The Baltimore Sun.

Ela fazia buscas entre os escombros com uma energia que surpreendeu o agente que trabalhava com ela, Heather Roche.

“No início eu pensei que ela não teria sucesso como cão de resgate, pois achava que ela não tinha uma personalidade adequada para isso, mas me enganei, ela trabalha perfeitamente”, disse Heather à Reuters TV.

“Os cães trabalhavam duro. Red e eu estávamos no turno diurno, no calor, doze horas sob o sol”, acrescenta Heather, que também informou que os cães dormiam pesado após o trabalho, mas na manhã seguinte já estavam dispostos e puxando as suas guias, como que pedindo para voltar.

Red continuou trabalhando como cão de resgate junto a Heather, e foi “aposentada” em 2011, porém ainda participa de algumas missões pois, segundo o tutor, ela gosta de trabalhar.

Tal como os humanos que presenciaram as tragédias como vítimas ou voluntários, certamente os cães também ficaram com seqüelas físicas e emocionais, mas não se sabe ao certo quais foram.

Sobre os mais de 300 cães que trabalharam nas operações do World Trade Center e do Pentágono por semanas após os atentados, os tratadores apenas afirmam saber que “eles também deram uma parte deles mesmos”.

Os animais em último plano

É um tanto inevitável nos perguntarmos se, em um desastre de tão grandes proporções e em uma área tão vasta, realmente apenas um cão tenha morrido como vítima direta da tragédia. Centenas de cães foram utilizados nas buscas e no resgate dos atentados, e é difícil acreditar que nenhum outro cão além de Sirius tenha sido vitimado em meio aos escombros. Não se tem notícia de quantos cães ficaram feridos, ou de outros animais de todas as espécies que tenham morrido nas imediações, pelo simples fato de estarem próximos.

Desconhecimento à parte – e realmente nunca conseguiremos saber o que houve com os animais, de fato, no episódio como um todo – o PETA divulgou em seu site no ano passado uma nota em lembrança aos animais indiretamente afetados: “…todos os gatos, cães, pássaros, hamsters, peixes, e outros animais de companhia que esperaram em vão pelo retorno de seus tutores amorosos que perderam as suas vidas naquele dia”.

A ONG também fez uma menção aos que ficaram presos dentro de apartamentos na chamada “Red Zone” (área de isolamento).


Foto: PETA

Na ocasião, o PETA recebeu telefonemas de pessoas desesperadas para buscar seus animais amados após terem sido impedidos de retornar para suas casas que ficaram isoladas. Imediatamente, os ativistas enviaram uma equipe de resgate para Nova Iorque.

Daphna Nachminovitch, a Vice Presidente do PETA que esteve à frente da operação, diz que sempre irá se lembrar da destruição e do desamparo. “Era um caos total. Nós lutamos para ultrapassar várias barreiras e impedimentos para alcançar os animais que precisavam de nós – e cujos tutores estavam desesperados para recuperá-los. Nós imploramos para superintendentes e bombeiros para que trouxessem alguns animais para fora, mas muitos pereceram. Tentamos cuidar de alguns animais traumatizados em um local improvisado, e procuramos unir os tutores e seus animais. São imagens que ficarão para sempre ardendo em nossa memória”.

O PETA também resgatou mais de 100 tartarugas de um mercado em Chinatown. E presenciou a operação no Pentagono, também colaborando com cães que foram utilizados para procurar sobreviventes em meio aos estilhaços de vidro e metais retorcidos.

O dia 11 de Setembro foi uma tragédia para todos os seres e, como todas as guerras, continua a afetar a humanidade até hoje. É um motivo para se lembrar a importância do respeito ao próximo, independente de espécie, raça, cor, gênero, nacionalidade, crença ou religião, e o quanto a falta desse respeito acarreta apenas em danos irrecuperáveis a todos.

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